Da Presidência ao teleponto: a candidatura de Mendes é um talk show em loop
Agora é a vez do Mendes. O tal que representa uma direita sonsa — aquela que se disfarça de centro, que acena à moderação enquanto faz fretes à extrema-direita. A propósito de Belém (e dos pastéis), essa direita — travestida de personalismo e veludo institucional — já se alinhou em grande parte à volta de mais um nome saído dos bastidores mediáticos. Mendes, o comentador residente da capital, habituado aos bastidores do poder e à luz das câmaras, decidiu candidatar-se. Se Marcelo chegou lá com selfies, aforismos e um sorriso permanente, ele também pode. E talvez consiga mesmo.
Mas não nos iludamos: Mendes é apenas mais um episódio reciclado. Um reboot do cavaquismo — com menos garra, mais verniz. Convém lembrar quem o empurra: os de sempre. Os que prometem reformas mas fogem delas como o diabo da cruz. Os que dizem querer mudar o país, mas nunca tocam nos interesses que os alimentam. Esses interesses, Mendes conheceu bem — e defendeu-os com zelo na sua vida de advogado.
A direita sonsa protege-se bem. Circula em clubes discretos, grupos de influência e colunas de opinião. Defende um Estado centralista e sabota autonomias regionais sempre que isso a favorece. E quando precisa de parecer moderna? Acena com um populismo polido: fala simples, cara lavada e gravata justa.
E depois vem o termo mágico: pragmatismo. Pragmáticos para travar quem lhes mete medo. Pragmáticos para garantir as pontes certas. Pragmáticos, sobretudo, porque o que interessa é ganhar — mesmo que isso nos custe mais uma presidência fria, servida como pastel requentado. O menu da direita sonsa é um banquete morno — temperado pelo marcelismo e servido com ajuda de uma certa esquerda “moderada” que também pôs os talheres na mesa… até ao golpe do parágrafo. Ainda assim, sejamos justos: Mendes é mais articulado do que Melo. Tem pensamento — mesmo que se discorde dele. E isso, neste panorama, já é dizer muito. Mendes não é um nome novo. É o nome que sobra quando se tem medo de arriscar. É a candidatura do “não fazer ondas”.
O pastel deixado na montra para parecer fresco. No fim das contas, o cardápio é o mesmo: • promessas mornas • alianças de ocasião • sabor agridoce de déjà-vu Até quando vamos continuar a engolir pastéis de Belém sem exigir um novo ingrediente?